Diante da birra: como dar um basta, de forma gentil e eficaz.

Geralmente, quando nossos filhos têm comportamentos de birra, acreditamos e até verbalizamos, que eles nos “dão trabalho”, que “não sabem se comportar”, ou até mesmo que são “mal-educados”.

Quando na verdade, quem está tendo problemas são eles. É como o bebê, que chora quando algo não está bem, e não somente porque quer chorar e te incomodar. O que acontece é que muitas vezes, estamos ocupados, ou mesmo, não sabemos lidar com a situação. Também nos sentimos irritados com isso, porém, quase sempre, não identificamos como algo nosso, do adulto, o qual, nós mesmos, acreditamos que deveria saber lidar com a situação de “bate-pronto”.

O exercício de tomarmos consciência do que estamos pensando e sentindo também deve ser realizado nestes momentos, em que o filho está fazendo birra, até para procurarmos manter o controle da situação na medida do possível.

Imagina, quantas vezes nos pegamos gritando junto com a criança, ou até mesmo chorando, ou de raiva, ou de frustração… Quem nunca?!

E se nós, os adultos, temos o papel de guiar nossos filhos, cuidar, estar junto, e se eles não sabem se comportar, ou se são ‘mal-educados’, algo está falhando em nossa função, não na deles, concorda? E esta é uma afirmação, não para cobrar, mas para mostrar que frequentemente colocamos tudo no automático e vamos verbalizando frases, muitas delas negativas, que se referem somente ao outro, no caso, à criança.

E nós? Como podemos olhar a situação de uma forma mais abrangente, nos sentirmos menos culpados, e, consequentemente, encontrarmos alternativas que sejam mais gentis, e eficazes?!

Diante da birra, o sentimento é de frustração. Ainda mais se eles insistem com determinados tipos de comportamento, como recorrentes escândalos em público, serem cruéis com irmãos/amigos, usarem palavras de baixo calão, choradeira constante etc., pode ser ainda mais irritante, e além disso, muito cansativo ser aquele pai ou aquela mãe que todos encaram porque o filho está constantemente chamando a atenção, no momento mais inoportuno, da forma mais desconcertante possível.

Mas, afinal de contas, o que realmente podemos fazer nessas situações para amenizar a necessidade de nossos filhos terem tal tipo de comportamento, com o objetivo de chamar nossa atenção? E mais ainda, sem que percamos a cabeça neste processo?

A primeira coisa a fazer é perceber o MOTIVO, a RAZÃO de tal comportamento de chamar a atenção. Tentar saber o porquê, já é um bom começo. Pergunte a si mesma: Por que meu filho está agindo assim?

Muitas vezes, a criança que já tem um histórico de abandono, qualquer tipo de atenção que consiga, mesmo considerada inadequada, já é válida para ela. Portanto, é imprescindível perceber não só o momento em si, mas todo o contexto que faz parte daquela vida.

Outro fator importante também, é que sem percebermos, acabamos não dispensando tanta atenção aos nossos filhos, como pensamos. Sempre estamos atarefados com os afazeres de casa, ou mesmo com trabalho, ou até passando tempo nas redes sociais, ou respondendo mensagens, mas se formos realmente contar o tempo que estamos dispensando aos nossos filhos, será que é muito tempo? Será que é a quantidade que imaginamos? Alguém já tentou computar quanto tempo está dando atenção aos filhos, ou realmente prestar atenção nisso? Pois então, há pesquisas apontando que acabamos dispensando atenção aos nossos filhos somente por 7 minutos por dia. Isso mesmo, 7 minutos por dia!!

Será que não gostaríamos também de chamar a atenção se descobríssemos que temos somente 7 minutos de atenção das pessoas que realmente importam?

Então, como saber se o seu filho é uma criança que somente ‘gosta’ de chamar a atenção? De acordo com o site nobullying.com as crianças que gostam de chamar a atenção costumam:

– inventar doenças para conseguirem atenção;

– ser extremamente dramáticas;

– prejudicar outra pessoa somente para bancar o herói da situação;

– se colocar como líder em qualquer situação para receber atenção;

– colocar um parental (pai/mãe) contra o outro;

– agir como se fossem as super ocupadas e super importantes, agradando as pessoas por serem capazes de darem conta de tudo;

– se fazer de vítimas em situações corriqueiras.

Caso seja necessário, buscar ajuda profissional é importante principalmente se estiver causando traumas. Porém, na maioria dos casos, uma boa conversa com o seu filho, para entenderem juntos as questões que estão por trás de tudo isso, pode ajudar muito, bem como seguir para os passos a seguir.

Fortaleça o seu filho

Mesmo sabendo a razão, o motivo dos comportamentos recorrentes de chamar a atenção, eles não cessam de forma mágica. É necessário fazer com que a criança se sinta segura, que terá sempre seu lugar no lar. Mesmo isso estando claro para nós, adultos, muitas vezes a criança não tem essa certeza, principalmente quando algumas mudanças acontecem, como a chegada de um irmão, por exemplo. Para a criança, o medo de perder seu lugar, pode ser difícil de superar, mesmo com todos os nossos esforços para isso.

Muitas vezes, diante de comportamentos que nos desagradam, acabamos reforçando somente o que não está legal, só falamos sobre o incômodo e esquecemos das coisas boas, dos esforços que a criança faz nos outros tantos momentos de sua vida.

Por exemplo, ao encontrarmos uma amiga na rua e ser perguntada sobre a criança, geralmente falamos “Ah, está me dando um trabalho, só quer chamar a atenção, faz birras o tempo todo, está agressivo”, e só falamos sobre o que nos incomoda. É importante nos darmos conta, de que não estamos reforçando o quanto ela realiza no seu dia-a-dia, o que ela realmente é. Se focarmos nos pontos positivos, a criança passa a ganhar mais confiança, as pessoas começam a vê-la como ela própria, e para isso podemos:

  1. Utilizar palavras de afirmação – qualquer criança que age de forma a chamar a atenção está se sentindo insegura consigo mesma. É importante dizer ao seu filho o quão importante ele é e o quanto significa para você, mesmo que seja em um momento de pontuar algo que não está legal, reforçar que apesar disso, você o ama. Falar o nome dele e que o ama, reforça em sua mente esta certeza. E prestar atenção nas pequenas atitudes, quando completa uma atividade sem que ninguém tenha pedido, é importante abraçá-lo e elogiar o ótimo trabalho que fez.
  2. Focar no positivo – Tentar focar nas atitudes positivas que seu filho tem, e não somente no comportamento de chamar a atenção, como mencionado acima. E se houver alguma mudança de comportamento por parte dele, de estar mais calmo por exemplo, onde geralmente chamaria a atenção, fazer disso uma grande conquista, mais até do que ficar reforçando o que não conseguiu.

Dê o seu tempo ao seu filho

Esteja atento ao tempo realmente dispensado ao seu filho. Há três tipos de atenção: a atenção positiva (dar atenção e aprovação por bons comportamentos), a negativa (dar atenção por maus comportamentos, o que acaba reforçando-os) e a falta de atenção. E como pais, é importante equilibrar. É preciso assegurar, de forma consciente, que nossos filhos recebam mais atenção positiva do qualquer outro tipo.

E como dar mais tempo aos nossos filhos?

– Se programe: Ter um período no dia destinado a dar atenção ao seu filho, que seja somente para você e ele(a). Desligue telefones, computadores, ou qualquer outra distração e foque somente nele.

– Torne este tempo divertido: É um momento que deve ser divertido e um investimento na vida do seu filho. Volte a ser criança. Jogue jogos de tabuleiros, cozinhem juntos, façam uma caminhada ou um artesanato. Há inúmeras atividades divertidas que podem ser realizadas com seu filho.

Dê um tempo ao seu filho

Assim como dar o seu tempo ao seu filho, é também importante que ele tenha o tempo dele.

Você é seu pai, ou mãe, não o ‘comandante do cruzeiro’. As crianças precisam aprender que tem tempo e lugar para tudo. Há momentos para interagir e ser o centro das atenções, e há momentos que eles não devem ser o foco principal. Eles precisam entender que está tudo bem em não ser o centro de tudo o tempo todo.

Uma alternativa para isso, é deixar que a criança tenha um tempo para brincar sozinha também, e que possa perceber o que consegue fazer, que não precisa depender o tempo todo de ter alguém ao seu lado para realizar e descobrir as coisas que gosta. Claro, é importante prezar pela segurança da criança e tomar os cuidados necessários para isso.

Retire a culpa, não as regras básicas

Como pais, devemos entender que o comportamento de nossos filhos nem sempre é um reflexo direto da nossa parentalidade. Realmente é muito difícil lembrar disso quando somos julgados pelos olhares quando a nossa criança está fazendo o maior escândalo no supermercado. Mas os nossos filhos também tem livre arbítrio.

Nós ensinamos nossos filhos, mas é com eles o que eles farão com o que ensinamos. Então precisamos parar de nos culparmos o tempo todo.

Como dito, nós somos os pais. Precisamos desenvolver regras estáveis e consistentes para que nossos filhos possam seguir, e saber que serão as mesmas em quaisquer situações. Isto não significa ser malvado, mas ensinar bom comportamento. Consistência é a chave nesta situação.

Controlar o comportamento de chamar a atenção pode ser um desafio para a família, mas não desistir é imprescindível. Nossos filhos podem superar com uma boa comunicação, amor e apoio. É necessário utilizar este tripé como uma oportunidade para aprofundar e engrandecer a relação entre pais e filhos.

O plano de ação de 2 minutos dos pais refinados

Quando seu filho estiver chamando a atenção de forma inadequada é importante lembrar, responder e retirar.

  • Lembre o porquê de estarem agindo de tal forma, o que pode te ajudar a responder de forma mais gentil.
  • Responda de forma calma deixando o seu filho saber que o seu comportamento é inadequado para aquele momento.
  • Retire a criança da situação por um momento, até que se acalme se não entender o aviso.

O plano de ação contínua dos pais refinados

Cessar o comportamento de chamar a atenção do seu filho exige muita paciência de sua parte.É importante manter as suas regras para que tudo seja consistente para ele (sem charadas).

Lembre-se que é natural se frustrar, mas se certifique de aliviar sua frustração de forma apropriada. Você pode escrever um diário ou conversar com uma amiga, ou mesmo encontrar uma rede de apoio, já que todos estamos no ‘mesmo barco’, há muito mais casos parecidos com o seu do que você imagina. É muito importante ser proativo ao lidar com as frustrações e, principalmente, ser positivo e consistente em seus posicionamentos.

Texto adaptado do original Attention Seeking Behavior: How to Gently, But Effectively, Stop it

by Jennifer Poindexter, disponível em <https://afineparent.com/be-positive/attention-seeking-behavior.html?utm_medium=email&utm_campaign=583983-attention-seeking-behavior-how-to-gently&utm_source=lists%2F40942-AFineParent-Com-Inspiration-And-Tips&simplero_object_id=su_idZnEibrS1uVtZX62NFsqffQ>

Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Leia também:
Bem-estar

O que podemos controlar?

Há situações que não estão sob o nosso controle. Por outro lado, há algumas que podemos nos atentar e controlar, mesmo que seja com atitudes simples. Podemos, por exemplo, ser gratos pelo que já temos, somos e conquistamos. Aliás, as conquistas, mesmo que consideradas pequenas, devem ser celebradas. E isso podemos fazer. Como passamos nosso

Leia mais >
Comportamento

Desenvolvendo a autonomia

No podcast a seguir falo sobre como desenvolver a autonomia. Falo sobre crianças, adolescentes e adultos. É importante organização, planejamento, orientação e avaliação. O respeito e paciência ao ritmo da pessoa que está aprendendo a desenvolver sua autonomia é fundamental, para que ela aprenda a observar e aprender com a atividade realizada. Falo também sobre

Leia mais >
Comportamento

Soft Skills

“Soft Skills” são as habilidades relacionadas a nossos comportamentos. Diferente das “hard skills”, que são nossas habilidades relacionadas a conhecimentos técnicos. Atualmente, observamos que muitos profissionais possuem um ótimo currículo, com muitos cursos, idiomas, formações e graduações, ou seja, um grande conhecimento técnico. E apesar de um currículo, muitas vezes, considerado invejável, o indivíduo não

Leia mais >